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Foto do escritorThiago Mesquita

O palacete da memória

Atualizado: 25 de out. de 2023


Grande Hotel (1913-1974) recriado em 3D pelo Projeto História Virtual. Saiba mais sobre o projeto clicando no link: https://bityli.com/AhQWPOZm.


Nossa história de hoje é um convite à Belém dos tempos da borracha, é um convite a reflexão sobre a importância da preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, é um convite a uma época que foi bela para poucos, mas que transformou nosso modo de ver e de nos relacionar com a nossa cidade. Talvez você não saiba, mas a história da nossa escola ganha força em um palacete da belle époque amazônica, uma palacete que para nós ficou na memória, mas que é cartão de embaque rumo à virada do século XIX para o XX em Belém do Pará.


Em 23/05/2020 o jornal O Liberal reporta a seguinte matéria: Projeto conta história arquitetônica de Belém em formato 3D. História Virtual recria Grande Hotel, construção histórica da cidade já demolida.


Uma parte das memórias arquitetônicas de Belém agora poderão ser revistas com uma série de detalhes. O projeto História Virtual, criado por três amigos de forma independente, recria construções históricas da cidade por meio da tecnologia 3D, além de contar a história dos monumentos; tudo disponibilizado de forma gratuita nas redes sociais.

O primeiro monumento retratado foi o Grande Hotel, edifício imponente em estilo eclético, cuja inauguração é datada de 1913, já no final do Ciclo da Borracha. A escolha não foi por acaso, já que a construção é considerada por especialistas como uma das edificações mais belas que a capital paraense já teve. Foi demolido em 1970, para dar lugar ao então Hotel Hilton, hoje Princesa Louçã (Av. Presidente Vargas).


Histórias de demolições mexem com nosso imaginário, entrar em contato com um passado que não está mais fisicamente presente, imaginar que em determinado local, em um determinado passado não muito distante esteve erguido um luxuoso hotel, uma igreja, um palácio é algo que atiça nossa memória. Novos tempos tempos chegam e os "velhos tempos" são demolidos, ficam para nós as fontes históricas e as possibilidades de contar como esse passado chega até nós.


Na virada do século XIX para o século XX, no ano de 1900, chegou em Belém um jovem cearense de 19 anos, se chamava José Sidrim. Nossa região vivia os últimos suspiros da prosperidade gerada pela economia da borracha e, Belém, era uma das mais belas capitais do Brasil. Nesse contexto, o jovem nordestino se torna um dos mais importantes nomes da engenharia e da arquitetura na Amazônia.


Embora haja controvérsias sobre processo de construção do luxuoso Grande Hotel, foi José Sidrim quem assinou o projeto vencedor da obra. São dele também importantes projetos arquitetônicos de obras públicas e, sobretudo, projetos de palacetes para as mais importantes famílias da época, muitos deles localizados na Estrada de Nazaré, uma região que na época ficava distante do centro da cidade de Belém. As imagens abaixo nos permitem imaginar como era a Estrada de Nazaré naquela época.



No perimetro entre a Travessa Quintino Bocaiúva e a Travessa Generalíssimo Deodoro, próximo a Estação de Bonds, ficavam localizados dois palacetes projetados pelo arquiteto José Sidrim: O Palacete Rita Bezerra e o Palacete Justo Leite Chermont. Na fotografia a seguir, que foi retirada por volta do ano de 1910, podemos ver a fachada do Palacete Rita Bezerra.


Fachada do Palacete Rita Bezerra em 1910. FAU/UFPA. Disponível em: https://bityli.com/VZjODqWq.


Rita Acatauassú Bezerra foi a proprietária desse imóvel. Nascida no ano de 1864, foi filha de Rita Borges Machado Acatauassú e Antônio Gonçalves Nunes, o Barão de Igarapé-Miri. "Sinhá Rita", como era carinhosamente conhecida, viveu até os 95 anos e foi testemunha ocular das diversas transformações sócio-espaciais que a cidade de Belém sofreu entre o final do século XIX e durante toda a primeira métade do século XX. Na fotografia a seguir nos encontramos com a protagonista da nossa história, quando ela tinha 88 anos e participava da 1ª Feira Pecuária do Pará do Marajó, em Soure, no dia 30 de agosto de 1952.

Acervo da família Bezerra da Rocha Moraes. Disponível em: https://bityli.com/XAkXCcZQ.


Durante sua vida, Rita Soares foi vizinha do palacete que perteceu a Justo Leite Chermont, importante político paraense e que também foi governador do estado do Pará entre 17 de dezembro de 1889 e 7 de fevereiro de 1891. Atualmente, o palacete que pertenceu ao ex-governador, abriga o Escritório Compartilhado da Agência das Nações Unidas (ONU) no Estado do Pará. O vídeo a seguir registra a inauguração da primeira casa da ONU na Amazônia. Você certamente conhece esse prédio. Voltaremos para esse história mais adiante.

Governo do Estado inaugura em Belém a primeira Casa da ONU na Amazônia. Disponível em: https://bityli.com/OdlXfKBWM.


Fotografias compartilhadas na página Família Bezerra da Rocha Moraes, no Facebook, nos permitem adentrar os portões da memória do palacete da nossa protagonista num domingo de Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Na fotografia a seguir podemos ver uma parte da família reunida ao redor da matriarca na famosa escadaria do palacete.

Acervo da família Bezerra da Rocha Moraes (s/d). Disponível em: https://bityli.com/ovrwTKSn.


Num segundo registro vemos os netos da senhora Rita Bezerra posando em frente ao chafariz que ornamentava o jardim da residência. O chafariz foi construído em pedra de lioz (um tipo raro de calcário encontrado na região de Sintra, em Portugal) e é possível de ser visto no detalhe atrás do neto camisa escura.

Acervo da família Bezerra da Rocha Moraes (s/d). Disponível em: https://bityli.com/osGwxtAs.


Após o seu falecimento, em 1959, o palacete de Rita Bezerra deu lugar a um dos mais importantes órgãos de gestão da região amazônica da época, a Superintendência do Plano de Desenvolvimento da Amazônia (SPVEA). O órgão foi criado no ano de 1953 no contexto pós 2ª Guerra Mundial e visava garantir o desenvolvimento da região amazônica de forma integrada ao restante do país. A SPVEA foi o órgão responsável pela condução de obras de viação, energia e crédito, pesquisas geográficas, naturais, tecnológicas e sociais, defesa contra inundação, política demográfica, relações comerciais, organização administrativa e divulgação econômica e comercial.


O vídeo a seguir mostra a cidade de Belém no ano de 1962 e no final dele podemos ver a fachada do palacete Rita Bezerra, sede da SPVEA em Belém.


Confira o vídeo completo em: https://bityli.com/TyahRbdu.


A essa altura da leitura você deve estar se perguntando: o que todas essas informações tem a ver com a história dos 60 anos da Escola de Aplicação da UFPA?


Vamos saber mais sobre isso agora.


Em nossa primeira história "Nos tempos da escolinha" você teve um primeiro contato com o Palacete Rita Bezerra nessa fotografia:

Leia 'Nos tempos da escolinha' clicando no link a seguir: https://bityli.com/HFGoTeUX.


Se você acompanha nossas redes sociais no Instagram e Facebook, também deve ter reconhcido esse chafariz:

Acervo de Sandra Condurú. Disponível em: https://bityli.com/zcwHxGbA.


O prédio que perteceu a Rita Bezerra, que posteriormente sediou a SPVEA, foi o prédio para onde nossos primeiros alunos, alunas, professoras e técnicos foram transferidos no final dos anos 60. Há quem diga que a Escola Primária da Universidade do Pará era a “menina dos olhos” do reitor José Rodrigues da Silveira Neto, que havia um esforço pessoal dele em levar adiante um projeto voltado à implementação da educação primária através da universidade, mas não apenas isso, ele também queria que essa escola fosse uma referência de ensino para aquelas gerações e, para as demais escolas de Belém da época, ao oferecer ensino público e de qualidade para filhos e filhas de servidores da universidade sem distinção.


Toda essa história chegou até nós através de uma postagem feita por Alberto Kalume Junior, em 05/01/2015 no grupo Escolinha da Universidade Federal do Pará. Nela ele compartilha o registro fotográfico da fachada do Palacete Rita Bezerra e logo após uma série de comentários deram vida ao prédio onde o "sonho de uma geração" foi construído.


A ex-aluna Lourdes Barbosa comenta: Boas lembranças de nossa escola, do convívio com pessoas maravilhosas e da forte e competente Diretora Sarah Roffé da Silva. Pena que a insensibilidade de alguns tenha destruído esse que seria um belo patrimônio dos paraenses.


Já a ex-aluna Eli Gemaque relembra os nomes de diversas professoras da época e, com carinho, rememora o cuidado da senhora Nazita, que trabalhava na secretaria. Em determinado trecho de seu comentário ela escreve que de vez em quando a comunidade recebia a visita ilustre do reitor José Rodrigues da Silveira Neto para a execução do Hino Nacional, uma das tradições escolares daquela época.


Houve quem se lembrasse dos lanches; alguns outros postaram fotos da época; uma ex-aluna postou uma anotação assinada pela diretora ex-Sarah Roffé em seu Diário Escolar; já outros postaram regitros da famosa Recordação Escolar.

Recordação escolar do ano de 1966. Acervo pessoal de Arthur Nobre Mendes. Disponível em: https://bityli.com/lkrrOsOQX.


No ano de 1976, já reconhecida como curso de 1º grau, a Escola Primária foi transferida para a então Avenida Tancredo Neves, nº. 1000 onde passou a funcionar o Núcleo Pedagógico Integrado e onde hoje fica a nossa Escola de Aplicação.


O Palacete Rita Bezerra ainda chegou a ser ocupado pelo Centro Galaico, após a saída da Escola Primária, contudo, no final dos anos 70, o prédio teve o mesmo destino que o Grande Hotel e foi demolido antes que pudesse ser tombado e então preservado como parte do patrimônio histórico, artístico e cultural do Pará, talvez essa tenha sido a sina que os 'novos tempos' impuseram às obras do nosso velho arquiteto José Sidrim.


Lembra do vídeo da inauguração da primeira casa da ONU na Amazônia? Pois bem, nos dias de hoje o terreno onde um dia esteve erguido o Palacete Rita Bezerra é utilizando como estacionamento dessa casa e agora você pode enteder o sentimento da nossa ex-aluna Lourdes Barbosa quando diz que é uma 'pena que a insensibilidade de alguns tenha destruído esse que seria um belo patrimônio dos paraenses.'


Diversas histórias que poderiam ser contadas no nosso 'palacete da memória' foram demolidas e fica a todos nós um convite a reflexão: Em tempos de tanta destruição temos consciência sobre o que representa para uma sociedade a preservação de seu patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental?


Das tantas histórias e memórias dessa época, que ainda vamos contar, resiste no Campus Universitário da UFPA no Guamá um resquício do que sobrou do antigo palacete: o chafariz em pedra portuguesa. É possível que poucos conheçam a sua história, entretanto, tudo à sua volta é cercado de simbolismo.


O chafariz, que um dia pertenceu a nossa escola, ornamenta o jardim da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFPA) e convive com um dos mais belos cenários amazônicos da nossa capital, parece "dizer" às gerações futuras que possam ser mais sensíveis a um ideal de preservação. O chafariz centenário carrega consigo tudo aquilo que antes o cercava e que, para as gerações de hoje, só existe através das histórias e das memórias.


Finalizamos nossa história da semana saudando o projeto História Virtual e, a atitude historiadora, do arquiteto e idealizador do projeto Victor Scantlebury e, também, a equipe do projeto que conta com a historiadora Mayara Araújo, responsável pela pesquisa e elaboração de textos, e o publicitário Leandro Scantlebury, que cuida das estratégias de comunicação do projeto.


Fica para os idealizadores do projeto o nosso: Você já imaginou como seria se a comunidade escolar da Escola de Aplicação pudesse visitar virtualmente o Palecete Rita Bezerra e conhecer um pouco da história dos tempos da escolinha?


Quer conhecer o História Virtual? clique no link abaixo e siga as redes sociais do projeto.


 

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Você é parte dessa história.

Vida longas a Escola de Aplicação da UFPA.






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