Você já parou para se perguntar o que é memória?
Seria ela simplesmente a faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados? Podemos atribuir a ela funções mais complexas, acreditar que ela é um elemento essencial do que costumamos chamar identidade, individual ou coletiva?
Nossa primeira história é um passeio em meio às memórias de um grupo que reúne as primeiras gerações de alunos e alunas da nossa escola, no tempo em que ela se chamava Escola Primária da Universidade do Pará ou, carinhosamente, Escolinha da Universidade. Do baú de Valdinho de Freitas, ex-aluno da nossa escola, um retrato nos transporta diretamente para a década de 1960.
Acervo pessoal de Valdinho Freitas. Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=159120287485378&set=g.141512422588841. Acesso em: 10/10/2022.
Na escadaria do antigo palacete que abrigou a Escola Primária da Universidade do Pará, no ano de 1964, o reitor José Rodrigues da Silveira Neto e as professoras Osmarina de Melo Fortuna, Terezinha Cardoso e Sarah Roffé da Silva estão rodeados por meninos e meninas da segunda turma da escolinha. As velas com enfeites natalinos nos indicam que era final de ano na escola, tempo de celebrar, reunir os amigos e tirar um belo retrato para o álbum de família.
O registro pertence ao acervo pessoal de Valdinho de Freitas e viajou 47 anos no tempo para chegar até nós no dia 30 de abril de 2011. Seis dias antes, em 24 de abril de 2011, um grupo de ex-colegas se reuniu através do Facebook para criar o grupo Escolinha da Universidade Federal do Pará, que atualmente possui 775 membros.
Há 11 anos o grupo é um lugar de reencontros e de memórias. Nele se reencontram antigos colegas, são compartilhadas histórias de ontem e de hoje. Fotografias e retratos dos tempos da infância e adolescência movimentam bastante o grupo num exercício interessante de se reconhecer, reconhecer os amigos e revisitar, através da memória, os lugares daquele tempo.
Quando olhamos para a fotografia na antiga escadaria atestamos a passagem do tempo, sentimos memórias individuais se cruzarem com memórias coletivas e chega a ser possível afirmar que as nossas gerações se encontram com as primeiras gerações da nossa escola.
Muitas vezes a memória nos pega de surpresa. Assim foi o caso da fotografia compartilhada pelo nosso ex-aluno Roberto Serra Freire, em 14 de maio de 2011, um mês após a fundação do grupo.
Acervo pessoal de Roberto Serra Freire. Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=167413299984356&set=g.141512422588841. Acesso em: 10/10/2022.
No retrato duas anotações, a primeira de caneta nos revela a data, era dezembro de 1963 e nosso aluno Roberto Serra Freire estava na 4ª série do primário. A segunda anotação é do ano de 2011, em letras brancas ele se pergunta: "será que minha mãe iria imaginar que um dia suas anotações e o zelo pelas fotografias serviriam para nos unir novamente?"
O registro uniu novamente o pequeno Roberto Serra Freire a nossa primeira diretora, a professora Osmarina Melo Fortuna. Reuniu também os antigos colegas em torno da memória que a fotografia mobiliza. Uniu a mim e a você que está lendo esse texto. Uniu a Escola de Aplicação de hoje e a Escolinha da Universidade Federal do Pará em 1963.
Tão forte é poder da memória que ela chegou a causar um sentimento em nosso protagonista. Em uma resposta, ele escreve: Você consegue também 'sentir' esse uniforme. Que coisa estranha isso tudo.
Anos mais tarde, em 18 de junho de 2018, foi a vez do nosso ex-aluno Daniel Mendes compartilhar um registro fotográfico semelhante ao de Roberto Serra Freire. Mais uma vez é final de ano na Escola Primária e, nesse retrato da época, nossa primeira diretora presenteia e parabeniza o pequeno Daniel Mendes pela passagem de mais um ano letivo, entretanto, em 2018, Daniel Mendes lança um instigante desafio de memória ao grupo: Será que alguém sabe quem são as outras pessoas identificáveis na foto?
Acervo pessoal de Daniel Mendes. Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=10209043469563178&set=g.141512422588841. Acesso em: 10/10/2022.
Não demorou até que vários membros do grupo se colocassem a identificar os colegas na foto. Stelio Santa Rosa, por exemplo, identificou nas costas da professora Osmarina, a aluno Reynaldo da Silveira, filho do reitor Silveira Neto, ao fundo, identificou também a professora Terezinha de matemática e, no centro da foto, a aluna Lygia Martins. Maria Delma Martins identificou a professora Geni, de óculos no meio da foto. Helena Pauxis relembrou que a professora Geni havia sido irmã do ex-governador Almir Gabriel. Silvana Henriques identificou Silvana Lamartine atrás do pequeno Daniel Mendes e ele relembrou a amizade o uniu a Silvana Lamartine, foram colegas até o vestibular, segundo ele.
Em torno da fotografia postada por Daniel Mendes se criou uma sinergia típica da memória, além de relembrar os nomes, foram tanbém rememoradas afetividades e reencontros. Algumas pessoas mencionaram os nomes de outras professoras do primário, outros relembraram partidas que trouxeram saudades e, percebemos em todos, a sensação de quase poder ‘reviver’ esse passado.
Um vídeo publicado pelo professor da UFPA e artista plástico Haroldo Baleixe no Youtube, em 30 de janeiro de 2014, causa em todos nós essa sensação de quase poder ‘reviver’ esse passado. O registro, que nos coloca em contato direto com o dia da fundação da Escola Primária da Universidade do Pará, pode ser assistido a seguir:
Acervo pessoal de Haroldo Baleixe. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kGqhwHvV4IE&t=39s. Acesso em: 10/10/2022.
Era o dia 07 de março de 1963, na rua Quintino Bocaiúva, nº. 1.632, em um palacete (tema da nossa próxima história), quando o reitor José da Silveira da Neto se reuniu com 318 alunos e alunas e 20 professoras para dar início a história da nossa escola. Daquele dia em diante gerações de alunos e alunas, professoras e professoras, servidores e servidoras, pais, mães, responsáveis passaram a dar vida as muitas histórias e memórias que ainda vamos contar. Durante os últimos 59 anos nossa escola ofereceu, à múltiplas gerações, ensino público, gratuito e de qualidade e, reconhecer a história que temos, é uma chave em direção ao futuro que queremos.
Finalizamos nossa primeira história celebrando a parceria firmada com o grupo Escolinha da Universidade Federal do Pará e ressaltamos a atitude historiadora de todos no grupo. As tantas histórias contadas nesses 11 anos de existência do grupo são um capítulo à parte nesses 60 anos das nossas tantas escolas.
Qual o sentimento que une a sua história a história da nossa escola?
Conte para nós, compartilhe suas memórias, seja parceiro e participe do nosso projeto.
Você faz parte dessa história.
Eis um trabalho que se desdobra num importante e significativo registro histórico e, sobretudo, num mui forte e especial estímulo à preservação e continuação do crescimento deste acervo. Parabéns a iniciativa tão exitosa!
Fui aluno do então Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) entre 1982 e 1993, da Alfabetização ao Terceiro Ano do Ensino Médio, o Convênio da época. Era e é uma grande escola, em que docentes de carreira e com dedicação a seu ofício fazem um ensino crítico, estimulante e de formação integral da pessoa. Parabéns.
Encantador, emocionante, instigante ver e ouvir nossas histórias, histórias da nossa Escola, hoje de Aplicação, outrora de Ensino Primário; mas sobretudo um lugar de múltiplos fazeres e saberes, um lugar de conhecimento . Tantas coisas vêem em nossos corações e mentes, quando temos o prazer de visitar esse site, trabalho lindo de viver. Obrigada professor Broni e dias amigos da EAUFPA60ANOS.
Iniciativa maravilhosa e necessária. Uma instituição de ensino tão importante como a Escola de Aplicação (antigo NPI), com tantas memórias e histórias para contar sobre a educação básica em Belém, no Pará, no Brasil, estava mesmo carente de um espaço como esse.
Parabéns, prof. Thiago Broni, pela ousadia e inovação.
Este site e as comemorações dos 60 anos da Escola já fazem parte dessa rica história da instituição.
Que trabalho lindo e essencial!
Essa escola tem uma grande importância na minha vida, não só porque hoje sou professora dos anos inicias do Ensino Fundamental de lá, mas porque me formei professora no seu curso de magistério, meu filho mais velho estudou lá, hoje minha filha caçula desfruta dessa escola, bem como pela diferença que ela faz na vida de crianças, adolescentes e jovens da comunidade ao seu entorno, que em sua maioria, é vulnerável social e economicamente. Moro no bairro Terra Firme e sou prova do quanto ela impacta positivamente na comunidade onde está inserida. Tenho certeza que esse trabalho será um marco. Sou professora alfabetizadora na escola e esse campo tem sido o meu objeto de pesquisa.…